Suspiros por um alguém.

     São exatamente 11h30. Vejo-o através do relógio que me ofereceram e sinto-o através da radiação do Sol numa manhã de Verão. Parece tão diferente o ato de agarrar num lápis e escrever num caderno. A verdade é que já não me lembro da última vez que o fiz. Digamos que por momentos da minha vida, eu sentia que não valia a pena tentar porque já nada me dava uma pitada de inspiração. Tentei sentar-me em frente ao computador. Tentei deitar-me com um caderno. Nada me conseguia fazer escrever uma única palavra.
    Não sei o que aconteceu hoje. Por algum motivo decidi vir até um sítio calmo e consegui escrever estes pequenos suspiros e desabafos.
    Bem, a verdade é que sinto que nos últimos três meses experimentei a maior batalha da minha vida. Desde problemas de saúde a momentos de ansiedade em que parecia que nada fazia sentido. Desde pessoas que se afastaram e que me deixaram destroçada a sentir que tudo à minha volta resultava de algo que eu tinha proporcionado. Era demasiado para mim. Muita coisa ao mesmo tempo. A ansiedade sempre foi um problema para mim, mas desta vez tornou-se sério. Ao início parecia que tudo tinha acontecido por uma única razão: exames. Mas quando chega ao ponto em que os exames acabam, as notas saem, tudo corre bem e mesmo assim...nada muda. Tudo estava cada vez pior.
Frequentei cerca de 5 médicos, dei entrada no hospital mais de 1 vez por semana e cheguei a tomar 4 comprimidos por refeição. Atingi um nível de ansiedade tão grande que já não controlava os meus próprios pensamentos. A toda a hora surgiam-me pensamentos que me tentavam fazer desistir. Desistir de lutar. Por mais uma oportunidade. Por mais um dia. Por mais um suspiro. Sentia-me culpada. Sentia que era impossível Deus amar-me sendo eu tão falível. Sentia que não merecia que Ele cuidasse mim. Sentia que não valia a pena.
    Apesar de a toda a hora contrariar estes pensamentos sabendo que não era isso que eu queria, tornou-se cada vez mais difícil. Tornou-se uma luta cada vez mais difícil de lutar. Tinha medo. Tinha medo de me magoar. Tinha medo de magoar outros. Tentava dormir mas cada noite era um desafio. O meu corpo parecia dominar a minha mente e a sensação de que tudo era minha culpa não me abandonava nem por um segundo.
    Tudo fica ainda mais difícil quando parece que Deus está adormecido. Eu sei que Ele não está, mas por alguma razão é isso que parece quando não vês nada a melhorar à tua volta.
    Foram tempos difíceis. Houve dias em que me deitei com medo de não acordar no dia seguinte. Houve dias em que os meus ataques de ansiedade foram tão assustadores que parecia que nada mais se passava à minha volta. Foram tempos difíceis. Aliás, têm sido tempos difíceis. Ainda hoje tomo comprimidos para a ansiedade. Ainda hoje é assustador pensar nisto. Cada noite continua a ser uma luta interminável.
       Deus ainda não mudou a minha situação e não sei se algum dia vai mudar. Mas Ele sem dúvida usou esta situação para me mudar a mim. E apesar de tudo isto ser assustador, ainda encontro alguns sorrisos nesta história. Sorrisos de pessoas que se mantiveram ao meu lado, que cuidaram de mim e que me mostraram que Deus vê, Deus sabe e Deus cuida, mesmo não O vendo a atuar. Sorrisos de Deus, porque apesar dos meus erros, eu estou pronta a mudar. E o meu próprio sorriso, porque no meio de tanta agitação, eu tornei-me uma pessoa melhor. Ainda ansiosa. Ainda insegura. Mas cada vez mais forte.
    E sim, ainda é uma luta constante. E não, ainda não está tudo bem. Mas aprendi que não precisa de estar. Aprendi que é possível ser feliz mesmo quando o mundo à tua volta começa a desabar.